Haddad acusa direita, e diz que reunião com secretário do Tesouro dos EUA foi cancelada após articulação

Haddad acusa direita, e diz que reunião com secretário do Tesouro dos EUA foi cancelada após articulação

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O caso envolvendo o cancelamento da reunião entre o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, previsto para 13 de agosto de 2025, é um tema que gerou significativa repercussão. Segundo Haddad, o cancelamento foi motivado por pressões de forças de extrema-direita, que teriam agido junto a assessores próximos à Casa Branca após tomarem conhecimento de suas declarações. Abaixo, detalho o contexto, os argumentos apresentados, as implicações e uma análise crítica sobre a possibilidade de ser uma narrativa fabricada ou não.

Contexto do Cancelamento

1. Objetivo da Reunião:

• A reunião virtual entre Haddad e Bessent tinha como propósito discutir a sobretaxa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump às exportações brasileiras, conhecida como “tarifaço”. Essa tarifa, implementada a partir de 6 de agosto de 2025, afeta diversos setores da economia brasileira, com potencial impacto em 140 mil empregos, segundo estimativas.

• O encontro seria uma continuação de negociações iniciadas em maio de 2025, na Califórnia, onde Haddad e Bessent já haviam discutido a relação comercial entre os dois países. Havia a expectativa de avançar em tratativas para reduzir a alíquota ou ampliar a lista de exceções à tarifa.

2. Cancelamento:

• Segundo Haddad, o cancelamento foi comunicado por e-mail, com a justificativa oficial de “falta de agenda” por parte da equipe de Bessent. No entanto, o ministro classificou a justificativa como inconsistente, apontando motivações políticas por trás da decisão.

• Haddad afirmou que a reunião foi desmarcada após a atuação de “forças de extrema-direita” que operam junto à Casa Branca, influenciando assessores do governo Trump. Ele sugeriu, sem citar diretamente, que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o influenciador Paulo Figueiredo, ambos atuando nos EUA, tiveram um papel nessa articulação.

3. Declarações de Eduardo Bolsonaro:

• Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, está nos Estados Unidos desde abril de 2025, onde tem se posicionado publicamente contra o governo brasileiro e em defesa de medidas como sanções a autoridades brasileiras, incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em uma entrevista ao Financial Times, Eduardo afirmou que os EUA deveriam intensificar pressões contra o STF, o que Haddad relacionou ao cancelamento da reunião.

• O ministro destacou que, após Eduardo tornar públicas suas intenções de inibir contatos entre os governos brasileiro e americano, o cancelamento ocorreu, sugerindo uma conexão direta. “Não há como não relacionar uma coisa à outra”, afirmou Haddad.

4. Reações:

• Eduardo Bolsonaro negou as acusações, chamando-as de “cinema” e afirmando que Haddad “prefere culpar terceiros pela própria incompetência”.

• Postagens em redes sociais, como a do perfil @proftulionit no X, reforçaram a narrativa de que Eduardo agiu contra os interesses do Brasil, enquanto outros, como @freu_rodrigues, criticaram Haddad, chamando-o de “fraco e incompetente”.

• O governo brasileiro, por meio de Haddad, Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), continua buscando negociações com os EUA, enquanto prepara um plano de apoio aos setores afetados pelo tarifaço, que inclui financiamentos, incentivos tributários e ampliação de compras governamentais.

Análise Crítica: Cinema ou Fato?

Para avaliar se as declarações de Haddad são verídicas ou se podem ser interpretadas como uma narrativa fabricada (“cinema”), é necessário considerar os seguintes pontos:

Argumentos a Favor da Versão de Haddad

1. Contexto Político nos EUA:

• O governo de Donald Trump, em 2025, tem demonstrado alinhamento com setores conservadores e de extrema-direita, tanto nos EUA quanto internacionalmente. A sobretaxa de 50% imposta ao Brasil, enquanto outros países como Japão, Coreia do Sul e a União Europeia conseguiram negociar condições melhores, sugere um tratamento diferenciado, possivelmente influenciado por fatores políticos.

• A menção a Jair Bolsonaro como “perseguido” pelo Judiciário brasileiro no decreto do tarifaço reforça a possibilidade de que questões políticas, e não apenas comerciais, estejam em jogo.

2. Atuação de Eduardo Bolsonaro:

• Eduardo Bolsonaro tem se posicionado ativamente nos EUA, promovendo narrativas contra o governo Lula e o STF. Sua entrevista ao Financial Times, onde defendeu sanções contra autoridades brasileiras, coincide temporalmente com o cancelamento da reunião, o que corrobora a tese de Haddad de que houve interferência.

• A presença de figuras como Paulo Figueiredo, que também atua nos EUA e é próximo a círculos conservadores, pode amplificar a influência de narrativas anti-governo brasileiro junto a assessores de Trump.

3. Falta de Motivação Econômica:

• Haddad destacou que o cancelamento não parece ter motivação econômica, já que a reunião visava discutir questões comerciais de interesse mútuo. A justificativa de “falta de agenda” soa frágil, especialmente considerando que Bessent havia anunciado o encontro à imprensa dias antes.

• A dificuldade de outros membros do governo brasileiro, como o chanceler Mauro Vieira, em estabelecer contatos com homólogos americanos reforça a ideia de barreiras políticas.

Argumentos Contra: Possibilidade de “Cinema”

1. Falta de Provas Concretas:

• Embora Haddad mencione a atuação de “forças de extrema-direita” e faça alusão a Eduardo Bolsonaro, ele não apresentou evidências diretas, como comunicações ou documentos, que comprovem a interferência. A conexão entre a entrevista de Eduardo e o cancelamento é circunstancial, baseada em coincidência temporal.

• A justificativa oficial de “falta de agenda” pode ser verdadeira, e Haddad pode estar usando a narrativa da extrema-direita para desviar a atenção de possíveis falhas na articulação diplomática do governo brasileiro.

2. Interesse Político Interno:

• Ao culpar Eduardo Bolsonaro e a extrema-direita, Haddad pode estar buscando reforçar a narrativa do governo Lula de que opositores, especialmente ligados ao bolsonarismo, agem contra os interesses nacionais. Isso pode ser uma estratégia para mobilizar apoio político interno, desviar críticas sobre a condução das negociações com os EUA e pressionar a Câmara dos Deputados a tomar medidas contra Eduardo.

• A acusação de “antidiplomacia” contra Eduardo pode ser uma tentativa de politizar a questão comercial, transformando-a em uma disputa ideológica, o que poderia beneficiar o governo em termos de opinião pública.

3. Resposta de Eduardo Bolsonaro:

• Eduardo negou categoricamente qualquer influência no cancelamento, acusando Haddad de criar uma narrativa para encobrir sua própria incapacidade de negociar com os EUA. Essa resposta, embora também sem provas concretas, sugere que a acusação de Haddad pode ser exagerada ou especulativa.

4. Complexidade das Relações Internacionais:

• O cancelamento de uma reunião diplomática pode ter múltiplas causas, incluindo questões internas dos EUA, prioridades do governo Trump ou mesmo desinteresse em negociar com o Brasil no momento. Atribuir o cancelamento exclusivamente à extrema-direita pode simplificar demais uma questão complexa.

Implicações

1. Relações Brasil-EUA:

• O cancelamento da reunião reforça as tensões nas relações bilaterais, especialmente no contexto do tarifaço, que ameaça setores produtivos brasileiros. A percepção de que forças externas, incluindo brasileiros como Eduardo Bolsonaro, influenciam decisões do governo americano pode dificultar futuras negociações.

• O Brasil está buscando alternativas, como redirecionar exportações para outros mercados (Rússia, China) e implementar um plano de apoio aos setores afetados, com medidas como financiamentos e incentivos tributários.

2. Política Interna Brasileira:

• As declarações de Haddad colocam pressão sobre a Câmara dos Deputados para investigar a atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA, que o ministro classificou como contrária aos interesses nacionais. Isso pode intensificar o embate entre o governo Lula e a oposição bolsonarista.

• A narrativa de “antidiplomacia” pode ser usada pelo governo para reforçar a imagem de que o bolsonarismo prejudica o Brasil internacionalmente, enquanto a oposição pode acusar Haddad de usar a extrema-direita como bode expiatório.

3. Impacto Econômico:

• Sem avanços nas negociações com os EUA, o tarifaço de 50% continua em vigor, afetando setores como café, carne e outros produtos brasileiros. O governo Lula está elaborando uma Medida Provisória para mitigar os impactos, mas a falta de diálogo direto com os EUA pode prolongar os prejuízos econômicos.

Conclusão

Há evidências circunstanciais que sustentam a versão de Haddad de que a reunião foi cancelada por pressões políticas, especialmente considerando a atuação pública de Eduardo Bolsonaro nos EUA e o contexto de alinhamento do governo Trump com narrativas conservadoras. A coincidência temporal entre a entrevista de Eduardo ao Financial Times e o cancelamento reforça a plausibilidade da articulação de forças de extrema-direita, como sugerido pelo ministro. No entanto, a ausência de provas diretas e a possibilidade de Haddad estar usando a narrativa para fins políticos internos abrem espaço para questionar se o caso foi inflado ou mesmo distorcido.

Não é possível afirmar com certeza se o cancelamento foi exclusivamente obra da extrema-direita ou se outros fatores, como prioridades do governo americano ou falhas diplomáticas brasileiras, também contribuíram. A acusação de “cinema” por parte de Eduardo Bolsonaro e de setores da oposição sugere que a narrativa de Haddad pode ter elementos de estratégia política, mas a gravidade das implicações econômicas e diplomáticas torna improvável que seja uma invenção completa. O mais provável é que o cancelamento resulte de uma combinação de fatores, com a atuação de figuras como Eduardo amplificando tensões já existentes nas relações Brasil-EUA.

Para acompanhar os desdobramentos, é importante monitorar se novas negociações serão agendadas e como o governo brasileiro lidará com as tarifas de Trump, além de observar possíveis ações da Câmara contra Eduardo Bolsonaro.


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Redação News

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